terça-feira, 16 de abril de 2013

A MULHER E O MUNDO / CARLOS HEITOR CONY

Vocês já ouviram dizer por aí que o lugar da mulher é no fogão. Também já ouviram dizer que o lugar da mulher não é no fogão. Que diabo, onde é afinal o lugar da mulher? Antes de mais nada, o lugar da mulher, como o do homem, é na vida. E vida é uma porção de coisas. Ninguém é melhor do que ninguém porque faz isso ou aquilo. O importante é fazer bem o que se faz, ter prazer naquilo que se faz. Em geral, atribui-se aos homens o desejo de reduzir as mulheres às condição de escravas domésticas. Muitos são assim e continuam assim. E há mulheres que gostam disso, encontram prazer em servir. E se o fazem com amor, tudo bem. Outras preferem ir à luta. Enfrentam cara a cara a concorrência, a deslealdade, a puxação de tapete, a necessidade de crescer, crescer, crescer - até chegar a hora em que, cansada de tudo, olha para sua casa, talvez olhe para seu fogão, e pense consigo mesma: - "O que a vida está fazendo comigo? É isso mesmo que eu quero? " O certo é o contrário. Fazer a própria vida, seja lá onde for. Seja lá como for. Seja lá com quem for.


Síntese do grupo:
 
  Lugar de mulher , onde será que se encaixa? Na vida,simplesmente.Não é apenas cozinhar,cuidar dos filhos e da casa;mulher é uma heroína.Há as que fazem de tudo por seus filhos,sua família e sua honra.Depois de tantos anos,é algo,completamente,ultrapassado e preconceituoso dizer que o lugar de uma mulher é atrás de um fogão; É extremamente machista dizer que lugar de mulher é na cozinha,ou, que a mulher é o sexo.Mulheres são, apenas, mais sentimentais que os homem; a maioria dos homens são mais fortes fisicamente do que algumas mulheres, mas isso não importa nada, o importante é ser forte psicologicamente, como a grande maioria das mulheres,que aguentam muitos problemas,obstáculos e preconceitos de cabeça erguida, com um sorriso no rosto. Algumas pessoas,ainda hoje,dizem e reafirmam que lugar de mulher é na cozinha, limpando e passando,cuidando dos filhos, todavia,são,geralmente as pessoas mais antigas,ou aquelas que foram ''educadas'' assim desde pequenos, muitas vezes com pais violentos. Mas, mulher não é o sexo frágil,pois há muitas que são mais fortes que muitos homens, mas são fortes de alma,conseguem trabalhar,cuida dos filhos e da casa, e mesmo com tantos desafios e empecilhos ainda mantém um sorriso no rosto.

Mini biografia:
 
 Carlos Heitor Cony nasceu no Rio de Janeiro, em 1926. Fez humanidades e cursos de filosofia no Seminário de São José. Esteou na literatura ganhando por duas vezes consecutivas o Prêmio Manuel Antônio de Almeida (em 1957 e 1958) com os romances "A Verdade de Cada Dia" e "Tijolo de Segurança". Trabalha na imprensa desde 1952, inicialmente no Jornal do Brasil, mais tarde no Correio da Manhã. Depois varias prisões políticas durante a ditadura militar e de um período no exterior, entrou para o grupo Manchete, no qual lançou a revista Ele e Ela e dirigiu as revistas "Desfile" e Fatos&Fotos". Atualmente, é colunista da Folha de S.Paulo, comentarista da rádio CBN. Como diretor da teledramaturgia da Rede Manchete, apresentou os projetos e as sinopses das novelas "A Marquesa de Santos", "Dona Beija" e "Kananga do Japão". Foi eleito para a Academia Brasileira de Letras em março de 2000.



 
Glossário:
 - Porção: Parte de algo; Pedaço.
 - Prazer: Estado afetivo agradável, por satisfação de um desejo ou tendência, ou pela realização de atividade fisiológica.
 - Atribuir: 1- Designar tarefa ou responsabilidade à alguém .Conferir; 2- Distribuir; dar algo; 3- Considerar algo como de autoria ou de responsabilidade de alguém.
 - Doméstico: Aquilo que pode ser ou já foi amansado, adaptado à vida da casa.
- Deslealdade: Traição, falta de amor e consideração ao próximo. Falta de princípios morais e de caráter. Pessoa amoral.
- Diminuir: Diminuir de tamanho, deixar pequeno.
- Concorrência: É a disputa entre produtores de um bem ou serviço que contenham as mesmas características com o objetivo de conquistar a maior parcela do mercado.
- Escrava: Criado, servo. Que trabalha em demasia. Propriedade de um Senhor.
- Condição: Ter condição de: poder fazer algo, realizar algo, emprestar algo.
- Enfrentar: Fazer lugar a alguma coisa. Ir para frente com os obstáculos.


Ilustração:


Bibliografia
http://www.comamor.com.br/mulher.asp
 
http://ww.carlosheitorcony.com.br/Biografia.aspx?imgFile=

http://www.dicionarioinformal.com.br

SEM ? É IMPOSSÍVEL PERGUNTAR

·                     (Ignácio de Loyola Brandão)
·                     (coleção literatura minha casa)
·                     (livro deixa que eu conto)
·                    

            Serginho olhou para o teclado e apertou a tecla 2.
·                     Em seguida, digitou o shift e apertou 2.
·                     Apareceu o símbolo @ .O que será isso?
·                     Depois,ele apertou o shift e o símbolo + surgiu no monitor.Serginho ria,divertia-se com     a          novidade.
·                     Se não apertasse a tecla shift,em lugar do + apareceria o sinal =.
·                     O que será que queria dizer?
·                     Que o + e o = são iguais,dependendo da tecla shift?
·                     Se quisesse o 5,bastava apertar a tecla 5.
·                     No entanto, ao apertar o shift junto com o 5,o que apareceu na tela foi um símbolo engraçado,%.
·                     Perguntou e o pai explicou que era porcentagem.
·                     - O que quer dizer porcentagem?
·                     O pai ficou calado uns minutos.
·                     -Veja!Você tem o número 100 .Mas deseja apenas 10% de 100.Ou seja,você deseja         apenas 10.
·                     -Por que vou querer 10% de 100?
·                     Era uma boa pergunta,o pai ficou de responder no dia seguinte, estava atrasado para o trabalho.
·                     Serginho teve certeza de que o pai não sabia o que era porcentagem e ficou alegre.Tão bom descobrir que o pai da gente não sabe todas as coisas do mundo.Assim fica igual à gente.Havia meninos cujos pais sabiam tudo,faziam tudo,podiam tudo.Eram meninos chatos,pentelhos,pareciam os pais.Ou será que eram mentirosos?
·                     Todavia,Serginho não estava preocupado com nada disso.Tinha descoberto as mágicas do teclado, as estranhezas que podia fazer com ele.
·                     Ao apertar o shift e o 3,surgia uma gradinha.Assim:#.
·                     O que seria? Para que serve?para fazer uma jaula?Para prender mosquito?A questão era : para que servem as coisas,os sinais diferentes que a gente pode produzir no telado de um computador?
·                     Serginho gostou do 8 misturado ao shift.Ele produzia uma estrelinha simpática *.
·                     Aproveitou,fez um monte,uma linha inteira
·                     ****************************************** Já o 6 com shift fazia surgir um chapeuzinho^.Serginho não teve dúvidas. ‘’Vou ter uma chapelaria” pensou.
·                     ^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^
·                     Havia uma maçazinha, ele apertou, nada aconteceu.
·                     Ficou desapontado.Imaginou que sairiam maças, igual a máquina de refrigerantes que havia na lanchonete da esquina.
·                     Apertou o 1 sozinho.Nada se passou.Quando apertou o 1 com o shift,viu o sinal!.
·                     Quando o pai chegou,ele perguntou o que era.
·                     - Isso é uma exclamação.
·                     - E o que é uma exclamação?
·                     Como explicar uma exclamação?
·                     -Olhe,vou exclamar!Assim você saberá o que é a exclamação.
·                     Então,disse,bem alto:
·                     -Puxa!Meu deus!Ora!Nem me diga!
·                     Tudo com ênfase,firmeza,exclamativo.
·                     -entendeu?
·                     -Não!
·                     O pai aproveitou:
·                     -Viu?Esse não que você disse foi uma exclamação!Deu para sacar?
·                     -Ah,uma exclamação é um não bem forte?
·                     -A exclamação é o contrário da interrogação.
·                     -E o que é interrogação?
·                     -É uma pergunta.
·                     -Quer dizer que a exclamação é uma não-pergunta?
·                     O pai disse que precisava ir trabalhar.
·                     Serginho apertou a tecla que ficava perto do shift e parecia um tracinho caindo,bêbado.Saiu no monitor um?.
·                     O que é esse pauzinho torto?,pensou.Parece um corcunda!
·                     O irmão mais velho,de 17 anos,passou com o skate nas mãos.
·                     -Sabe o que é isso<Ciro?
·                     -Sei,uma interrogação!
·                     Apesar de brigar muito com o irmão,Serginho gostava dele,admirava.Ficou feliz.ia saber o que é uma interrogação.
·                     -O que é interrogação ?
·                     -Sabe,é a coisa que você precisa quando vai fazer uma pergunta.Sem ela você não pode perguntar,ninguém vai saber que é pergunta.
·                     E a exclamação?
·                     É quando você exclama.
·                     -E quando exclamo?
·                     -Quando você diz puuuuuxxxxaaaaa!
·                     -Puuuuuuuuuuuuxxxxxxxxaaaaaaaa,tão fácil!
·                     Serginho tremeu. Que maravilha!Coisa mais incrível.Se não existisse o?ninguém poderia perguntar.Como viver sem perguntar? Todo mundo sabe que para ter o sinal ? é preciso apertar o shift e o tracinho caindo?Ciro saiu,estava atrasado,deixando Serginho intrigado.Que coisa engraçada.Quer dizer que se eu não tiver um ? não posso fazer uma pergunta?E se não existisse o shift no teclado,não poderíamos perguntar?Estava achando tudo fascinante. O pai tinha trazido o computador,presente para os filhos,ao mais velhos começavam a precisar para trabalhos da escola,para a internet,a irmã queria namorar por meio dele,a mãe desejava planejar o orçamento familiar,era uma família organizada.
·                     O computador tinha chegado na noite anterior e Serginho desde manhã estava tentando decifrar mistérios.Era divertido,complicado.Acima de tudo, mágico.Ele podia digitar uma letra(ainda que não soubesse que a palavra era digitar)e colocá-la fechada dentro de duas cercas (8),podia criar um mundo de estrelas*,de+,de chapéus^,
·                     Não sabia ainda o que fazer com tudo,mas descobriria.Teria de ser sozinho,o pai mostrava não ter paciência.Ou talvez não soubesse.Porque o computador parecia remeter a coisas da vida que não tinham explicações fáceis.
·                     -O que é vida?
·                     Por que não se vê o ar ?
·                     Quando nasceram as letras?
·                     Por que a água molha?
·                     Por que o número 7 é o 7 e não o 8,e o 9 é não o 2?
·                     Como a voz vem pelo telefone?
·                     Serginho estava descobrindo que a vida e o computador abrigam coisas que os adultos não sabem,não conhecem,não explicam.Que a vida e o computador têm perguntas sem respostas.Mas que respostas existem e estão dentro do computador e das pessoas.
·                     Disposto a descobrir,ele começou a apertar todas as teclas:Caps Lock,return,shift,tab,clear,help,home,Page up,Page down,control,option.
·                     Estranhas palavras.Quem fala assim?Língua de computador.encheu o monitor de números,símbolos,signos,letras.
·                     E ai viu uma tecla delete.
·                     Apertou.,Tudo sumiu,ficou branco.
·                     O computador tinha engolido suas coisas de volta,mas estava pronto a devolver.
·                     Devolver seus mistérios,sua mágica,o encantamento do shift,essa tecla solitária que produz tanta diferença.
Glossário=PENTELHOS=Pelo da região pubiana. Pessoa desagradável, maçante.
                  SIGNOS=o conjunto de dois triângulos de metal entrelaçados e dispostos em forma de estrela, que se traz como enfeite ou, por superstição, como talismã contra qualquer influência funesta
                  SÍMBOLOS= Tudo o que, de maneira arbitrária ou convencional, representa uma outra coisa: A bandeira é um dos símbolos nacionais.
                CIRO=relativo aos ciros, antigo povo germânico que combateu juntamente com os hunos.
               SACAR= Tirar brusca ou violentamente (algo) de onde estava guardado ou encerrado. [tda. : Sacou o documento do bolso.] [int. : Nos faroestes, o mocinho sempre saca mais rápido.] [tr. + de : Sacou do punhal e feriu o agressor.]
               TODAVIA= No entanto; mas, porém, contudo
               DECIFRAR=
Captar o sentido de; COMPREENDER; RESOLVER: decifrar enigmas.
               ARBITRARIA=
por arbítrio, de modo arbitrário, com despotismo
                 CALDAS AULETE
            
              SINTESE DO GRUPO:
·                     Sem ? é impossível perguntar , depende se for oral da para saber, se for escrito não pois no anunciado diz que o menino Serginho ficou fazendo perguntas para seus irmãos,seus pais se eles sabem o que é ?.
·                     E perguntou para o pai se ele sabia o que era porcentagem %,e quando ele queria saber o que era porcentagem más seu pai iria trabalhar e estava atrasado para o serviço.E ele ficou feliz porque achou que seu pai não sabia e então e ele critica se não estivesse o shift não iria sair o sinal interrogação e outros sinais,más ele não sabia o que fazer com aqueles sinais que ele apertava.Más ele queria descobrir o que significava.
·                     O sinal CAPS LOCK,RETURN,SHIFT,TAB,CLEAR,HELP,
·                     HOME,PAGE UP,PAGE DOWN,CONTROL,OPTION, estas estranhas palavras que é usada na linguagem do computador
·                     Mini-biografia de Ignácio de Loyola brandão
·                    
·                     Ignácio de Loyola Lopes Brandão nasceu em Araraquara - SP, no dia de Santo Ignácio de Loyola, 31 de julho de 1936. Seu primeiro conto publicado foi "O menino que vendia palavras", que nasceu de seu fascínio por dicionários. Seu primeiro romance, "Dias de Glória", um policial passado em Veneza, foi escrito em um caderno quando cursava o ginásio. Começou cedo a escrever para jornais, primeiro em Araraquara, depois em São Paulo. Em 1963 muda-se para a Itália com o objetivo de trabalhar como roteirista em Cinecittà. De volta ao Brasil lança em 1965 seu primeiro livro, "Depois do sol", de contos. Seu primeiro romance, "Bebel que a cidade comeu", é lançado 3 anos depois. Sua adaptação para o cinema recebe o Prêmio Governador do Estado de São Paulo de "Melhor Roteiro Cinematográfico". Ainda em 1968 Ignácio recebe o Prêmio Especial do I Concurso Nacional de Contos do Paraná por "Pega ele, Silêncio", publicado em "Os melhores contos do Brasil". Desde sua temporada na Itália já trabalhava na cabeça a idéia para a história de seu romance "Zero", onde quis retratar o homem comum vivendo em uma cidade violenta durante uma ditadura. Esse romance foi primeiramente publicado em Milão e em seguida no Brasil (1975). Embora tenha recebido o prêmio de "Melhor Ficção", pela Fundação Cultural do Distrito Federal, em 1976, "Zero" é censurado pelo Ministério da Justiça no mesmo ano. Sua venda é proibida e só é liberada em 1979. A partir daí viaja pelos EUA e Europa, participando de eventos literários e dando palestras. Em 1984 recebe o Prêmio IILA, do Instituto Ítalo-Latino-Americano, pelo romance "Não verás país nenhum" e assume a vice-presidência da União Brasileira de Escritores. Em 2000 recebe o Prêmio Jabuti de "Melhor Livro de Contos" por "O homem que odiava a segunda-feira", publicado em 1999.
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·                     NOMES:Bruno Vinicius N:09
·                     Beatriz França N:35
·                     Debora N:12
·                     Grazielle N:17
·                     Maria Eduarda N:25
·                     Paulo Ricardo N:31
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ESCOLA: E.M.E.F.Professor Juvenal da Costa e Silva

Cego e amigo Gedeão à  beira da estrada.

                                                      Moacyr Scliar


— Este que passou agora foi um Volkswagen 1962, não é, amigo Gedeão?
— Não, Cego. Foi um Simca Tufão.
— Um Simca Tufão? ... Ah, sim, é verdade. Um Simca potente. E muito econômico. Conheço o Simca Tufão de longe. Conheço qualquer carro pelo barulho da máquina.
Este que passou agora não foi um Ford?
— Não, Cego. Foi um caminhão Mercedinho.
— Um caminhão Mercedinho! Quem diria! Faz tempo que não passa por aqui um caminhão Mercedinho. Grande caminhão. Forte. Estável nas curvas. Conheço o Mercedinho de longe... Conheço qualquer carro. Sabe há quanto tempo sento à beira desta estrada ouvindo os motores, amigo Gedeão? Doze anos, amigo Gedeão. Doze anos.
É um bocado de tempo, não é, amigo Gedeão? Deu para aprender muita coisa. A respeito de carros, digo. Este que passou não foi um Gordini Teimoso?
— Não, Cego. Foi uma lambreta.
— Uma lambreta... Enganam a gente, estas lambretas. Principalmente quando eles deixam a descarga aberta.
Mas como eu ia dizendo, se há coisa que eu sei fazer é reconhecer automóvel pelo barulho do motor. Também, não é para menos: anos e anos ouvindo!
Esta habilidade de muito me valeu, em certa ocasião... Este que passou não foi um Mercedinho?
— Não, Cego. Foi o ônibus.
— Eu sabia: nunca passam dois Mercedinhos seguidos. Disse só pra chatear. Mas onde é que eu estava? Ah, sim.
Minha habilidade já me foi útil. Quer que eu conte, amigo Gedeão? Pois então conto. Ajuda a matar o tempo, não é? Assim o dia termina mais ligeiro. Gosto mais da noite: é fresquinha, nesta época. Mas como eu ia dizendo: há uns anos atrás mataram um homem a uns dois quilômetros daqui. Um fazendeiro muito rico. Mataram com quinze balaços. Este que passou não foi um Galaxie?
— Não. Foi um Volkswagen 1964.
— Ah, um Volkswagen... Bom carro. Muito econômico. E a caixa de mudanças muito boa. Mas, então, mataram o fazendeiro. Não ouviu falar? Foi um caso muito rumoroso. Quinze balaços! E levaram todo o dinheiro do fazendeiro. Eu, que naquela época j á costumava ficar sentado aqui à beira da estrada, ouvi falar no crime, que tinha sido cometido num domingo. Na sexta-feira, o rádio dizia que a polícia nem sabia por onde começar. Este que passou não foi um Candango?
— Não, Cego, não foi um Candango.
— Eu estava certo que era um Candango... Como eu ia contando: na sexta, nem sabiam por onde começar.
Eu ficava sentado aqui, nesta mesma cadeira, pensando, pensando... A gente pensa muito. De modos que fui formando um raciocínio. E achei que devia ajudar a polícia. Pedi ao meu vizinho para avisar ao delegado que eu tinha uma comunicação a fazer. Mas este agora foi um Candango!
— Não, Cego. Foi um Gordini Teimoso.
— Eu seria capaz de jurar que era um Candango. O delegado demorou a falar comigo. De certo pensou: "Um cego? O que pode ter visto um cego?" Estas bobagens, sabe como é, amigo Gedeão. Mesmo assim, apareceu, porque estavam tão atrapalhados que iriam até falar com uma pedra. Veio o delegado e sentou bem aí onde estás, amigo Gedeão. Este agora foi o ônibus?
— Não, Cego. Foi uma camioneta Chevrolet Pavão.
— Boa, esta camioneta, antiga, mas boa. Onde é que eu estava? Ah, sim. Veio o delegado. Perguntei:
"Senhor delegado, a que horas foi cometido o crime?"
— "Mais ou menos às três da tarde, Cego" — respondeu ele. "Então" — disse eu. — "O senhor terá de procurar um Oldsmobile 1927. Este carro tem a surdina furada.
Uma vela de ignição funciona mal. Na frente, viajava um homem muito gordo. Atrás, tenho certeza, mas iam talvez duas ou três pessoas." O delegado estava assombrado. "Como sabe de tudo isto, amigo?" — era só o que ele perguntava. Este que passou não foi um DKW?
— Não, Cego. Foi um Volkswagen.
— Sim. O delegado estava assombrado. "Como sabe de tudo isto?" — "Ora, delegado" — respondi. — "Há anos que sento aqui à beira da estrada ouvindo automóveis passar. Conheço qualquer carro. Sem mais: quando o motor está mal, quando há muito peso na frente, quando há gente no banco de trás. Este carro passou para lá às quinze para as três; e voltou para a cidade às três e quinze." — "Como é que tu sabias das horas?" — perguntou o delegado. — "Ora, delegado"— respondi. — "Se há coisa que eu sei — além de reconhecer os carros pelo barulho do motor — é calcular as horas pela altura do sol." Mesmo duvidando, o delegado foi... Passou um Aero Willys?
— Não, Cego. Foi um Chevrolet.
— O delegado acabou achando o Oldsmobile 1927 com toda a turma dentro. Ficaram tão assombrados que se entregaram sem resistir. O delegado recuperou todo o dinheiro do fazendeiro, e a família me deu uma boa bolada de gratificação. Este que passou foi um Toyota?
— Não, Cego. Foi um Ford 1956.

Fonte: http://www.releituras.com/mscliar_cego.asp




     Glossário

Econômico: De baixo consumo (esp. de combustível).

Estável: Sem variações ou alterações.

Bocado: Pequena quantidade ou parte de qualquer coisa.

Ocasião: Circunstância ou momento qualquer.

Balaço: Grande bala; Tiro de bala.

Rumoroso:  Que causa pasmo, escândalo, sensação; Em que há rumor.

Cometido: Ocorrido, perpetrado.

Surdina: Em voz muito baixa, ou quase sem ruído.

Ignição: Sistema que aciona o motor de um veículo pela inflamação comandada da mistura combustível.

Gratificação: Demonstração de agradecimento, de reconhecimento.

Fonte: http://aulete.uol.com.br/


     Biografia

    Moacyr  Scliar nasceu em Porto Alegre , a 23 de março de 1937. Estreou na grande imprensa em 1952. 
    A Partir de 1962, já formado em médico, Scliar dividia seu tempo entre a medicina pública e a vida de escritor. Publicou , então , seu primeiro livro de contos , Histórias de médico em formação.
    Moacyr Scliar passou a publicar um livro por ano, mantendo sempre a medicina como principal atividade remunerada.


     Síntese Coletiva

     O conto aborda a historia de um senhor que era cego que costumava a ficar sentado em frente a sua casa ouvindo o barulho dos carros que ali passavam, com isso se acostumou com os sons e se familiarizou com o barulho dos motores assim sabendo diferenciá-los . 
    Certa vez, ouviu boatos sobre crimes ocorridos no local, com a sua habilidade conseguiu reconhecer o carro que envolvia-se em um dos crimes e foi recompensado pela policia.
    Concluímos que quando perdemos algum sentido ou habilidade temos que focar nossas forças em outro sentido com sabedoria para que não haja sequelas daquele que perdemos. 
    Quando se perde um dom isso nos afeta emocionalmente, porém não podemos apenas esquecer o "problema" ou ficar apenas sofrendo, temos que superá-lo e "inventar" um modo em que não tenhamos algum dano.  


     Ilustração



Grupo:
Barbara  Chagas 
Brena Benedicto
Bruna Jones
Laryssa Gomes 
Melissa Cristine
Renata Silva

 9º ano D
Escola: E.M.E.F. Juvenal da Costa e Silva