quarta-feira, 17 de abril de 2013

A VITÓRIA DA INFÂNCIA_FERNANDO SABINO

            Naquela manhã íamos a cidade preocupados, cheios de compromissos e, ao contrário do que sempre acontece, não pretendíamos perder tempo pelo caminho. Meu amigo Otto tinha de passar na Faculdade de Filosofia para transmitir um recado e, como eu dispusesse de meia hora, resolvi acompanhá-lo. 
         Realizava-se no momento uma conferência, e a pessoa que ele procurava estava lá dentro, sentada ao lado do conferencista.Sugeri-lhe que se aproveitasse do pasmo das alunas ao ouvir o homem exclamar, dedo em riste: "São Tomás de Aquino chegou a ser excomungado !"e entrasse na sala para transmitir o seu recado. Acabei deixando-o indeciso junto à porta e fui para o pátio.
        Dois meninos, sujos e descalços,jogavam bolinha de gude: um mais alto , com um sorriso a que faltavam dois dente, e outro pequenino e mirrado, cabeça raspada e olhos postos na bola, numa obstinação de quem há de ganhar ao menos uma partida. Otto, já livre de sua incumbência, se aproximou e ficamos a observar o jogo. Notamos desde logo a superioridade do jogador mais velho, de técnica apurada, maior precisão nos lances iniciais, grandes senso de oportunidade nas cricadas e muita prudência no evitar as armadilhas do papão ao se aproximar da birosca. Em dado momento uma pergunta nossa sobre a variante técnica de palmo e meio em vez de um palmo, usada pelo menorzinho,atraiu para nós a atenção dos contendores.
     -Dou de lambujem - explicou o mais velho.
-Ele está perdendo e disse que eu levo vantagem porque a mão dele é miudinha. Então eu dou pra ele mãe e meia, mas só no batizado. Nem assim ele ganha.
      Botou a patinha na terra, marcou meticulosamente distância e cricou outro; depois mudou de ângulo por causa de um tufo de grama, papou a primeira birosca, tornou a cricar. Papou a segunda, de uma jogada direta foi espetacularmente à terceira e, já papão, deu como desprezo chance ao outro de se aproximas. O outro caiu na armadilha: em vez de tentar o batizado diretamente, quis tecar, e acabou morrendo uma vez, morrendo a segunda, para, vítima de cricadas magistral, morrer definitivamente nas garras do adversário. Sem ser batizado.
      -Querem uma dupla? - convidou-nos o vencedor, irônico, com ostensiva superioridade a tripudiar sobre a derrota do outro, que nos olhava aparvalhado. Aquilo feriu nosso brios. Aceitamos, mas sob condições: só seria permitido o galeio de recuo, quem morresse na birosca seria eliminado, não concedíamos mão e meia nem antes nem depois do batizado. Eles concordaram, depois de breve confabulação, e o maior falou para o menor:
     -Dá as riscadinhas para ele,Zé.
    Zé meteu a mão no bolsinho da calça e tirou um punhado de bolsas, de mistura como um canivetinho enferrujado,uma bala de chocolate já meio derretida e um toco de lápis vermelho. Separou cuidadosamente as riscadinhas e nos entregou.
      Foi dada a saída e desde logo se evidenciou a superioridade deles.inclusive o pequenino,que tacitamente havíamos considerado já no papo,ao aceitar o desafio.Otto foi infeliz,na saída,por causa de uma pedrinha que desviou o curso da bola e quase morreu na segunda birosca,praticamente antes de começar.O que seria a suprema das vergonhas.Mas uma infelicidade de seu adversário,perdendo o batizado por estupidez que ele mesmo se encarregou de amaldiçoar com um palavrão,equilibrou o jogo,mandando-me para a birosca inesperadamente,em abençoada carambola.
       Foi a vez do pequenino que,ainda pagão,deu de passagem uma fabulosa cricada no meu parceiro,atirando-lhe a bola á distância.E ainda foi a birosca.Soltei uma exclamação de entusiasmo,mas meu amigo protestou:
        -Não vale!Ele ainda era pagão!Não vale tecar sem cair antes na birosca.
        Ao que o menino mais velho redarguiu alegando,com perdão da palavra,que não valia cagar regra.
        -Não fala bobagem não,menino.A regra é essa mesmo.
        Descobrimos então,para nosso pasmo,que eles chamavam a birosca de "búlica" ou "búrica"-ou outro nome assim de nobre origem etimológica,influência talvez da proximidade da Faculdade de Filosofia.A palavra birosca lhes despertava mesmo sorrisos maliciosos,dando-nos a certeza de que se tratava de pornografia nova,escapada ao nosso vocabulário infantil.Havia ainda outras variantes na terminologia deles,que já não era a mesma de nosso tempo:assim,a "cricada" era para nós apenas a tecada final,que assegurava a vitória,e não todas elas,como eles vinham usando.(Entretanto,agora verifico no dicionário que nós é que usávamos o termo lídimo: "tecar" ele registra e "cricar" não registro.)
         -Então começa de novo.
         Recomeçou o jogo.Agora,depois do incidente,era a nossa honra que jogávamos.De repente vi meu a,igo se transfigurar como se a própria infância nascesse dos olhos cansados,dando-lhe jogadas magistrais.Em pouco tempo um dos adversários (o pequenino) liquidou-me,depois de armar-me cilada,o safadinho,fingindo errar a pontaria duas vezes,e morri pagão.Mas meu parceiro,papão de primeira,matou-o a mais de quatro metros,numa esplêndida jogada de galeio(com recuo).Não podia conter seu entusiasmo:
         -Sabe?Eu ainda sou dos bons!
         Por pouco não põe tudo a perder,numa jogada imprudente que o deixou perto do outro.Agora se perseguiam ao longo do jardim e o outro,já nervoso,errou e tornou a errar.Então Otto liquidou-o sem dó nem piedade numa cricada definitiva,que significava mais uma bola conquistada para a coleção.Ergueu-se e se tornando adulto com um pigarro,sacudiu a poeira das mãos.Os meninos o olhavam,admirados;devolveu-lhes as bolas,num belo esto de desprendimento,não queria ficar com elas.E puxou-me pelo braço,modestamente:
          -Vamos,não é?Está ficando um pouco tarde.
          Perdêramos naquilo toda a manhã e os compromissos atrasados se acumulavam.Fiz-lhe ver minha apreensão,enquanto saíamos apressadamente,mas ele me assegurou que não tinha importância,o dia estava ganho,nossa vitória tinha sido insofismável.                                                                                                    
             (fonte:A vitória da infância)                                                                                                                               
                                                                                                              (O HOMEM NU)




SÍNTESE DO GRUPO:
    
    O grupo  achou melhor fazer um mini resumo do texto para mostra oque nos intendemos :
    
  Dois meninos foram  na Faculdade dar um recado, mas o conferencista estava ocupado, na vez dele continuar tentando falar com ele , não ele foi embora, mais quando ele tava indo embora parou pra ficar olhando dois meninos jogando bolinha de gude, e esqueceram de ir resolver seus compromissos....
      

BIOGRAFICA:

        Fernando Tavares Sabino, filho do procurador de partes e representante comercial Domingos Sabino, e de D. Odete Tavares Sabino, nasceu a 12 de outubro de 1923, Dia da Criança, em Belo Horizonte.
Em 1930, após aprender a ler com a mãe, ingressa no curso primário do Grupo Escolar Afonso Pena, tendo como colega Hélio Pellegrino, que já era seu amigo dos tempos do Jardim da Infância. Torna-se leitor compulsivo, de tal forma que mais de uma vez chega em casa com um galo na testa, por haver dado com a cabeça num poste ao caminhar de livro aberto diante dos olhos. Desde cedo revela sua inclinação para a música, ouvindo atentamente sua irmã e o pai ao piano.
Em 1934, entra para o escotismo, onde permanece até os 14 anos.  Disse ele em sua crônica "Uma vez escoteiro":

"Levei seis anos de minha infância com um lenço enrolado no pescoço, flor-de-lis na lapela e pureza no coração, para descobrir que não passava de um candidato à solidão. Alguma coisa ficou, é verdade: a certeza de que posso a qualquer momento arrumar a minha mochila, encher de água o meu cantil e partir. Afinal de contas aprendi mesmo a seguir uma trilha, a estar sempre alerta, a ser sozinho, fui escoteiro — e uma vez escoteiro, sempre escoteiro".
Com 12 anos incompletos, em 1935, torna-se locutor do programa infantil "Gurilândia" da Rádio Guarani de Belo Horizonte. Freqüenta o Curso de Admissão de D. Benvinda de Carvalho Azevedo, no qual adquire conhecimentos de gramática que lhe serão muito úteis no futuro em sua profissão.
Ingressa no curso secundário do Ginásio Mineiro, onde demonstra grande interesse pelo estudo de Português. Suas primeiras tentativas literárias sofrem influências dos livros de aventuras que vive lendo, principalmente Winnetou, de Karl May, e dos romances policiais de Edgar Wallace, Sax Rohmer e Conan Doyle, entre outros. Nessa época, por iniciativa do irmão Gerson, tem seu primeiro conto policial  estampado na revista "Argus", órgão da Secretaria de Segurança de Minas Gerais. Passada a primeira emoção vem o desapontamento: o nome do autor, na revista, consta como sendo Fernando Tavares "Sobrinho".
Em 1938, ajuda a fundar um jornalzinho chamado "A Inúbia" (mesmo sem saber exatamente o que isso vem significar) no Ginásio Mineiro. Ao final do curso, embora desatento, "levado" e irrequieto, conquista a medalha de ouro como o primeiro aluno da turma. Começa a colaborar regularmente com artigos, crônicas e contos nas revistas "Alterosas" e "Belo Horizonte". Participa de concursos de crônicas sobre rádio e de contos, obtendo seguidos prêmios.
Nadador, em 1939, bate vários recordes em sua especialidade: o nado de costas. Compete e ganha inúmeras medalhas em campeonatos nas cidades de Uberlândia, São Paulo e Rio de Janeiro. Participa da Maratona Nacional de Português e Gramática Histórica, empatando com Hélio Pellegrino no segundo lugar em Minas Gerais e em todo o Brasil. Viajam juntos ao Rio para receber em sessão solene o prêmio das mãos do mineiro Gustavo Capanema, então Ministro da Educação.
Aprende taquigrafia, em 1940, para escrever mais depressa. Começa a ler, com grande obstinação, os clássicos portugueses a partir dos quinhentistas Gil Vicente e João de Barros, entre outros, até os romancistas como Alexandre Herculano, Almeida Garrett e Camilo Castelo Branco. Antes de chegar a Eça de Queiroz e a Machado de Assis, aos 17 anos, está decidido a ser gramático. Escreve um artigo de crítica sobre o dicionário de Laudelino Freire, que tem o orgulho de ver estampado no jornal de letras "Mensagem", graças ao diretor Guilhermino César, escritor mineiro que se torna amigo de Fernando Sabino e seu grande incentivador. João Etienne Filho, secretário de "O Diário", órgão católico, é outro a estimulá-lo no início de sua carreira.  Nele publica artigos literários, juntamente com Otto Lara Resende, Paulo Mendes Campos e Hélio Pellegrino, formando com eles um grupo de amigos para sempre.
No período de 1941 a 1944 presta serviço militar na Arma de Cavalaria do CPOR. Inicia o curso superior na Faculdade de Direito. Convive com escritores e, por indicação de seu amigo Murilo Rubião, ingressa no jornalismo como redator da "Folha de Minas". Orientado por Marques Rebelo, reúne seus primeiros contos no livro "Os Grilos não Cantam Mais", publicado no Rio de Janeiro à sua própria custa. Bem recebido pela crítica, lhe vale principalmente pela carta recebida de Mário de Andrade, a partir da qual inicia com ele uma correspondência das mais preciosas para a sua carreira de escritor. (veja emLições do Mestre). Colabora no jornal literário do Rio "Dom Casmurro", revista "Vamos Ler" e "Anuário Brasileiro de Literatura".
Em 1942, é admitido como funcionário da Secretaria de Finanças de Minas Gerais e dá aulas, nas horas vagas, de Português no Instituto Padre Machado. Conhece pessoalmente o poeta Carlos Drummond de Andrade, dele se tornando amigo através de correspondência e, mais tarde, no Rio, de convivência.
No ano seguinte é nomeado oficial de gabinete do secretário de Agricultura. Faz estágio de três meses como aspirante no Quartel de Cavalaria de Juiz de Fora, período que serviria de inspiração para hilariantes episódios no livro "O Grande Mentecapto". Inicia uma colaboração regular para o jornal "Correio da Manhã", do Rio e conhece seu futuro amigo Vinicius de Moraes. Prepara sua mudança para o Rio de Janeiro. Publica o ensaio "Eça de Queiroz em face do cristianismo" na revista "Clima", de São Paulo (SP).
Integra, em 1944, a equipe mineira na Olimpíada Universitária de São Paulo, como pretexto para conhecer pessoalmente Mário de Andrade. Lêem, em voz alta, os originais da novela "A Marca", que é publicada em seguida pela José Olympio Editora. Muda-se para o Rio, assumindo o cargo de Oficial do Registro de Interdições e tutelas da Justiça do Distrito Federal. Convive com Rubem Braga, Vinicius de Moraes, Carlos Lacerda, Di Cavalcanti, Moacyr Werneck de Castro, Manuel Bandeira e Augusto Frederico Schmidt, entre outros.
Participa da delegação mineira no Congresso Brasileiro de Escritores em São Paulo, no ano de 1945, onde, durante a sessão plenária de encerramento, em desafio à polícia ali presente, sugere ao publico que seja lida a Moção de Princípios proclamada pelo Congresso, exigindo do ditador Getúlio Vargas a abolição da censura e a restauração do regime democrático no Brasil, com convocação de eleições diretas. Conhece Clarice Lispector, dando início a uma intensa amizade.

No ano seguinte forma-se em Direito e licencia-se do cargo que exerce na Justiça, embarcando com Vinícius de Moraes para os Estados Unidos. Passa a residir em Nova York, trabalhando no Escritório Comercial do Brasil e, posteriormente, no Consulado Brasileiro. Começa a escrever o romance "O Grande Mentecapto", que só viria retomar 33 anos depois. Colabora com o jornal "Diário de Notícias", do Rio.
Em 1947, envia crônicas de Nova York para serem publicadas aos domingos nos jornais "Diário Carioca" e "O Jornal", do Rio, que são transcritas por diversos jornais do resto do país. Começa a escrever "Ponto de Partida" (romance), e outro, "Movimentos Simulados", os quais não chega a concluir mas que serão aproveitados em "Encontro Marcado". Realiza uma série de entrevistas com Salvador Dali e faz reportagem sobre Lazar Segal.
Volta ao Brasil em 1948, a bordo de um navio cargueiro que se incendeia em meio a uma tempestade, a caminho de Bermudas. No Rio, é transferido para o cargo de escrivão da Vara de Órfãos e Sucessões. Crônica semanal no Suplemento Literário de "O Jornal".
Em 1949, escreve crônicas e artigos para diversos jornais brasileiros.  Em 1950, reúne várias delas sobre sua experiência americana no livro "A Cidade Vazia".
Publicação em tiragem limitada do livro "A Vida Real", em 1952, composto de novelas sob a inspiração de "emoções vividas durante o sono". Escreve, sob o pseudônimo de Pedro Garcia de Toledo, diariamente, "O Destino de Cada Um", nota policial no jornal "Diário Carioca". Escreve crônicas com o título geral "Aventuras do Cotidiano", no "Comício", "semanário independente" fundado e dirigido por Joel Silveira, Rafael Correia de Oliveira e Rubem Braga. Colaboração com a revista "Manchete" a partir do primeiro número, que se prolongará por 15 anos, a princípio sob o título "Damas e Cavalheiros", posteriormente "Sala de Espera" e "Aventuras do Cotidiano".
Em 1954 faz campanha política no Recife e em Fortaleza, a convite de Carlos Lacerda. Lança tradução do dicionário de Gustave Falubert. Viaja pelo sul do Brasil em companhia de Millôr Fernandes. Em companhia de Otto Lara Resende, então diretor da "Manchete", antecipa em entrevista pessoal e exclusiva o lançamento da candidatura do General Juarez Távora à Presidência da República.
Juscelino Kubitscheck, governador de Minas Gerais, também candidato à Presidência, o convida para jantar no Palácio Mangabeiras, em 1955.  Decepcionado com a conversa, assume no "Diário Carioca" a cobertura da agitada campanha de Juarez Távora. Viaja por todo o país — mais de 150 cidades — em companhia do mineiro Milton Campos, candidato a vice.
Em 1956, publica o romance "O Encontro Marcado", um grande sucesso de crítica e de público, com uma média de duas edições anuais no Brasil e várias no exterior, além de adaptações teatrais no Rio e em São Paulo.
É exonerado, a pedido, em 1957, do cargo de escrivão, passando a viver exclusivamente de sua produção intelectual como escritor e jornalista.  Passa a escrever crônica diária para o "Jornal do Brasil" e mensal para a revista "Senhor".
O relato da viagem à Europa, feita pela primeira vez por Fernando Sabino em 1959 está no livro "De Cabeça para Baixo". Comparece ao lançamento de "O Encontro Marcado" em Lisboa, Portugal. Visita vários países, remetendo crônicas diárias para o "Jornal do Brasil", semanais para "Manchete" e mensais para a revista "Senhor", perfazendo um total de 96 crônicas em 90 dias de viagem.
Até o ano de 1964, depois de sua volta ao Rio, dedica-se à produção de dezenas de roteiros e textos de filmes documentários para diversas empresas.
Em 1960 faz viagem a Cuba, como correspondente do "Jornal do Brasil", na comitiva de Jânio Quadros, eleito Presidente da República e ainda não empossado. Faz reportagem sobre a revolução cubana, "A Revolução dos Jovens Iluminados", constante do livro com que inaugura a Editora do Autor, fundada por ele em sociedade com Rubem Braga e Walter Acosta, ocasião em que também são lançados "Furacão sobre Cuba", de Jean-Paul Sartre (presente ao acontecimento com sua mulher Simone de Beauvoir); "Ai de ti, Copacabana", de Rubem Braga; "O Cego de Ipanema", de Paulo Mendes Campos e "Antologia Poética", de Manuel Bandeira. Fernando Sabino lança o livro "O Homem Nu" pela nova editora.
Em 1962 publica "A Mulher do Vizinho", que recebe o Prêmio Cinaglia do Pen Club do Brasil. Seu livro "O Encontro Marcado" é publicado na Alemanha. Escreve o argumento, roteiro e diálogos do filme dirigido por Roberto Santos "O Homem Nu", tendo Paulo José no papel principal. Posteriormente, a história é novamente filmada, com o ator Cláudio Marzo no papel principal.
No programa "Quadrante", da Rádio Ministério da Educação, em 1963, Paulo Autran lia crônicas semanais de Sabino e de Carlos Drummond de Andrade, Manuel Bandeira, Dinah Silveira de Queiroz, Cecília Meireles, Paulo Mendes Campos e Rubem Braga. Uma seleção dessas crônicas foi publicada pela Editora do Autor em dois volumes:"Quadrante 1" e "Quadrante 2". Como os demais colaboradores de órgãos oficiais, é automaticamente efetivado no cargo de redator do Serviço Público, da Biblioteca Nacional e mais tarde da Agência Nacional, cabendo-lhe a elaboração de textos para filmes de curta metragem. Seu livro "O Encontro Marcado" é editado na Espanha e na Holanda.
É contratado, em 1964, durante o governo João Goulart, para exercer as funções de Adido Cultural junto à Embaixada do Brasil em Londres. Continua mandando seus relatos para o "Jornal do Brasil", "Manchete" e revista "Cláudia". Faz a leitura semanal de uma crônica na BBC de Londres em programa especial para o Brasil.
Em 1965 fica a seu encargo de compor a delegação britânica que participará no Festival Internacional de Cinema no Rio de Janeiro. Comparecem os diretores Alexander Mackendrick, Fritz Lang e Roman Polanski. Representa o Brasil no Festival Internacional de Cinema, em Edimburgo, na Escócia, e no Congresso Internacional de Literatura do Pen club em Bled, na Iugoslávia, onde reencontra Pablo Neruda.
Faz a cobertura, em 1966, da Copa do Mundo de Futebol para o "Jornal do Brasil". Desfaz a sociedade na Editora do Autor e, com Rubem Braga, funda a Editora Sabiá.
A Sabiá inicia sua carreira de grande sucesso, em 1967, lançando — além dos de seus proprietários — livros de Vinicius de Moraes, Paulo Mendes Campos, Otto Lara Resende, Carlos Drummond de Andrade, Manuel Bandeira, Augusto Frederico Schmidt, Jorge de Lima, Cecília Meireles, Dante Milano, Rachel de Queiroz, João Cabral de Melo Neto, Autran Dourado, Dalton Trevisan, Clarice Lispector, Murilo Mendes, Stanislaw Ponte Preta — e a série "Antologia Poética" dos maiores poetas contemporâneos, não só brasileiros como, também, dos sul-americanos Pablo Neruda e Jorge Luiz Borges. Edita romances de grande sucesso internacional como "Boquinhas Pintadas", de Manuel Puig, "O Belo Antônio", de Vitaliano Brancati, "A Casa Verde", de Mario Vargas Llosa, e toda a obra do Prêmio Nobel Gabriel García Márquez, a partir do famoso "Cem Anos de Solidão". Seu livro "O Encontro Marcado" é lançado na Inglaterra. Publica o artigo "Minas e as Cidades do Ouro" pela revista "Quatro Rodas".
No anos seguinte "O Encontro Marcado" é lançado na Inglaterra em pocket-book. No dia 13 de dezembro a Editora Sabiá programou uma festa no Museu de Arte Moderna, no Rio, com o lançamento de vários livros, entre os quais: "Revolução dentro da Paz", de Dom Hélder Câmara; "Roda Viva", de Chico Buarque de Holanda; "O Cristo do Povo", de Márcio Moreira Alves e, fechando com chave de ouro, "Nossa luta em Sierra Maestra", de Che Guevara. Nesse dia é editado o Ato Institucional que oficializa a ditadura militar e, como não poderia deixar de ser, a festa não se realiza.
Sabino segue para Lisboa, Roma, Paris, Berlim, Londres e Nova York, em 1969, como enviado especial do "Jornal do Brasil", para uma série de reportagens sobre "O que está acontecendo nas maiores cidades do mundo ocidental". Publica, pela Sabiá, um livro de literatura infantil: "Evangelho das Crianças", escrito com a colaboração de Marco Aurélio Matos.
A convite do governo alemão, em 1971, volta à Europa. Realiza reportagem sob o título "Ballet de Márcia Haydée em Stutgart" para a revista "Manchete". De volta ao Brasil realiza um super-8 curta-metragem sobre Rubem Braga, "O Dia de Braga", exibido pela TV Globo e que lhe servirá de modelo para os futuros documentários em 35 mm sobre escritores brasileiros.
Em 1972, vende a Sabiá para a José Olympio. Viaja para Los Angeles, onde produz e dirige com David Neves, para a TV Globo, uma série de oito mini-documentários sobre Hollywood, "Crônicas ao Vivo". Entrevista Alfred Hitchcock e Broderick Crawford. Escreve três reportagens para a "Realidade".
Com David Neves, no ano seguinte, funda a Bem-Te-Vi Filmes Ltda. Filma "A Ponte da Amizade", documentário rodado em Assunção - Paraguai, para o Departamento Comercial do Itamaraty, registrando a participação do Brasil na Feira Internacional de Indústria e Comércio.  Realiza uma série de documentários cinematográficos "Literatura Nacional Contemporânea", sobre dez escritores brasileiros: Érico Veríssimo, Carlos Drummond de Andrade, Vinicius de Moraes, João Cabral de Melo Neto, Manuel Bandeira, Jorge Amado, João Guimarães Rosa, Pedro Nava, José Américo de Almeida e Afonso Arinos de Melo Franco.
Em 1974, viaja a Buenos Aires, de onde escreve crônicas para o "Jornal do Brasil". Em 1975, vai ao Oriente Médio, com David Neves e Mair Tavares, onde produz e dirige o filme "Num Mercado Persa", documentário sobre a participação do Brasil na Feira Internacional de Indústria e Comércio, em Teerã.  Publica "Gente I" e "Gente II", com crônicas, reminiscências e entrevistas de personalidades de destaques nas letras, nas artes, na música e no esporte.
1976, entre viagens a Buenos Aires, cidade do México, Los Angeles, marca o lançamento do livro "Deixa o Alfredo Falar!". Participa da Feira do Livro de Buenos Aires. Após 16 anos de colaboração, deixa o "Jornal do Brasil".
Inicia, em 1977, a publicação de crônica semanal sob o título de  "Dito e Feito" no jornal "O Globo". Sua colaboração se prolongará por 12 anos sem qualquer interrupção e era reproduzida no "Diário de Lisboa" e em oitenta jornais no Brasil. Viagem a Manaus, da qual resulta no livro "Encontro das Águas". Com Carlos Drummond de Andrade, Paulo Mendes Campos e Rubem Braga, integra a série "Para Gostar de Ler".
Vai à Argélia, em 1978, realizar filme sobre Argel e a participação brasileira na Feira Internacional de Indústria e Comércio, intitulado "Sob Duas Bandeiras". Como em todas as viagens que realiza ao exterior, envia crônicas para o jornal "O Globo".
Em 1979, retoma e acaba em dezoito dias de trabalho ininterrupto o romance "O Grande Mentecapto", que havia iniciado há 33 anos, um sucesso literário. O livro servirá de argumento para o filme com o mesmo nome, dirigido por Oswaldo Caldeira e com Diogo Vilela no papel principal. É adaptado para o teatro em Minas e São Paulo.
Publica "A Falta Que Ela Me Faz". Recebe o Prêmio Jabuti pelo romance "O Grande Mentecapto". Filma a participação do Brasil na Feira Internacional de Indústria e Comércio em Hannover, em 1980.
Recebe o Prêmio Golfinho de Ouro na categoria de Literatura, concedido pelos Conselhos Estaduais de Educação e Cultura do Rio de Janeiro. Realiza viagens ao Peru e aos Estados Unidos, e dois documentários em vídeo sobre a Bolsa de Valores do Rio de Janeiro, em 1981.
Em 1982, lança o romance "O Menino no Espelho", ilustrado por Carlos Scliar, que passa a ser adotado em inúmeros colégios do país. Percorre várias cidades brasileiras, participando do projeto Encontro Marcado, ciclo de palestras de escritores nas universidades provido pela IBM.
Lança o livro "O Gato Sou Eu", em 1983.
Publica os livros "Macacos Me Mordam", conto em edição infantil, com ilustrações de Apon e "A Vitória da Infância", seleção de contos e crônicas sobre crianças, em 1984. Seu livro "O Grande Mentecapto" é lançado em Lisboa.
"A Faca de Dois Gumes" é seu novo livro, em 1985. Uma das novelas é adaptada para o cinema, com o mesmo título, dirigida por Murilo Sales.  Escreve uma peça teatral, baseada em "Martini Seco", encenada no Rio de Janeiro. É condecorado com a Ordem do Rio Branco no grau de Grã-Cruz pelo governo brasileiro. Publica, no "New York Times", o artigo "The Gold Cities of Minas Gerais".
Em 1986, realiza inúmeras viagens: Londres, Tókio, Hong-Kong, Macau e Singapura. Escreve "Belo Horizonte de todos os tempos" para o Banco Francês-Brasileiro.
Publica "O Pintor que Pintou o Sete", história infantil, a novela "Martini Seco" em edição para-didática, e três seleções: "As Melhores Histórias", "As Melhores Crônicas" e "Os Melhores Contos", em 1987.
É lançado "O Tabuleiro das Damas", um esboço de autobiografia, em 1988. Escreve suas últimas crônicas para "O Globo", do qual se despede no final do ano.
Em 1989 o filme "O Grande Mentecapto" é premiado no Festival Internacional de Gramado. Novas viagens pelo mundo e o lançamento do livro "De Cabeça Para Baixo", reportagens literárias e jornalísticas sobre as suas viagens pelo mundo de 1959 a 1986.
No ano seguinte esse filme é exibido no Festival Internacional de Cinema em Washington D.C., e recebe um prêmio. Lança o livro "A Volta Por Cima".
Em 1991, lança o livro "Zélia, Uma Paixão", biografia autorizada de Zélia Cardoso de Mello, Ministra da Fazenda no governo Collor, com tratamento literário. Os escândalos em sua vida privada e sua saída do governo foram motivo de grande repercussão entre os brasileiros, criando clima hostil ao escritor. Por ironia do destino, nesse mesmo ano sua novela "O Bom Ladrão", do livro "A Faca de Dois Gumes", é lançada em edição extra como brinde ao dicionário de Celso Luft, com tiragem recorde de 500.000 exemplares.
Viaja ao Chile, em 1992, para preparar a edição de "Zélia, Uma Paixão" em castelhano. Edição paradidática de " O Bom Ladrão". 
Lança, em 1993, "Aqui Estamos Todos Nus", uma trilogia de novelas "de ação, fuga e suspense".
No ano seguinte lança o livro "Com a Graça de Deus", "uma leitura fiel do Evangelho inspirada no humor de Jesus".
Em 1995, a Editora Ática relança a seleção, revista e aumentada, de "A Vitória da Infância", com a qual Fernando Sabino reafirma sua determinação ao longo da vida inteira de preservar a criança dentro de si. Ou, como ele mesmo escreveu: "Quando eu era menino, os mais velhos perguntavam: o que você quer ser quando crescer? Hoje não perguntam mais. Se perguntassem, eu diria que quero ser menino".

O autor faleceu dia 11 de outubro de 2004 na cidade do Rio de Janeiro. A seu pedido, seu epitáfio é o seguinte: "Aqui jaz Fernando Sabino, que nasceu homem e morreu menino".

Em 2006, é lançada a 82ª edição de "O encontro marcado".


 GLOSSÁRIO:
   
 1. Incumbência: Ação ou resultado de incumbir(-se).
 2. Prudência: Qualidade própria de quem age com cuidado para evitar más consequências
 3.Confabulação: Ação ou resultado de confabular
4.Birosca:O mesmo que gude
5.Terminologia: O conjunto de termos de uma arte, ciência, profissão etc
6.Lídimo: Que é tido como autêntico, genuíno, legítimo

7.Pigarro: Irritação na garganta, provocada pelo catarro ou outra causa, minimizada por meio de 

movimentos 
8.Insofismável: musculares e pela passagem de ar no local, o que produz um ruído característico

9.Tecar:Em jogos de bolinha de gude ou sinuca, dar um teco (ou tacada), acertar em cheio uma bola na 

outra.

10.Cricadas

Site:http://aulete.uol.com.br


  E.M.E.F Juvenal da Costa e Silve
  9°ANO B

 Itatiaia 
Hemini
Liliane
Rocio
Alana


O Leão - Dalton Trevisan

   A menina me leva diante do leão ,esquecido por um circo de passagem. Velho e doente, não está preso em grades de ferro. Foi solto no gramado e a tela fina de arame é escarmento ao rei dos animais. Não mais que um caco de leão: pernas reumáticas ,juba emaranhada e sem brilho. Os olhos globulosos fecham-se cansados sobre o focinho contei nove ou dez moscas ,que não tinha ânimo de espantar. Das grandes narinas escorriam gotas e pensei, por um momento ,fossem lágrimas. 
   Observei em volta: todos adultos, sem contar a menina. Apenas para nós o leão conserva o antigo prestígio  as crianças ao redor dos macaquinhos. Um dos presentes explica que o bicho tem as pernas entrevadas, a vida inteira na minúscula jaula. Derreado, não pode sustentar-se de pé.
   Chega-se um piá e, desafiando com olhar selvagem o leão, atira-lhe  um punhado de cascas de amendoim. O rei sopra pelas narinas, ainda é um leão: estremece a grama a seus pés. Simula ignorara a provocação e mastiga com dificuldade, no canto da boca, um pedaço de carne. Um de nós protesta que deviam servir-lhe a carne. Um de nós protesta que deviam servir-lhe a carne em pedacinhos.
 - Ele não tem dente?
 - Tem sim, não vê? Não tem a força de morder.
   Continua o moleque a jogar amendoim na cara devastada do leão. Ele nos olha e um brilho de compreensão nos faz baixar a cabeça: é conhecido o travo amargoso de derrota. Está velho, artrítico, não se aguenta das pernas, mas é um leão. De repente, sacudindo a juba, põe-se a mastigar o capim. Ora ,leão come verde! Lança-lhe o guri uma pedra: acertou no olho lacrimoso e doeu.
   O leão abriu a bocarra de poucos dentes amarelos, não era um bocejo. Entre caretas de dor elevou-se aos tracos nas pernas tortas. Sem sair do lugar, ficou de pé.Escancarou penosamente os beiços moles e negros, ouviu-se a rouca buzina de fordeco antigo.
   Por um instante o rugido manteve suspensos os macaquinhos e fez bater mais depressa o coração da menina. O leão trovejou seis ou setes urros. Exausto, deixou-se cair de lado e fechou os olhos para sempre.

Fonte: Livro: Deixa que eu conto.
         Coleção: Literatura em minha casa.


Síntese do grupo

   A menina acha o leão velho e ele estava muito maltratado com as perdas reumáticase ele não tinha brilhos nos olhos e o leão estava muito doente por causa que foi esquecido por um circo.
   O leão tinha passado a vida inteiro convivendo com adultos e crianças no circo e ele ficava trancado em uma minuscula jaula com pouco comigo e agora ele não consegui mais sustentar em pé.
   O leão tão acabado não tinha forças para morder e a menina pesou em dar pedaços de picados de carne para ele e tinha um moleque que estava jogando amendoim no roto do leão e o moleque depois tacou uma pedra nos olhos do leão, o leão levantou-se com muita dor nos olhos ,deu varios urros e caiu-se ao lado da menina e fechou os olhos para sempre.






Mini Biografia 


Dalton Trevisan (1925) é um escritor brasileiro. Recebeu o Premio Camões de 2012, pela importância no gênero do conto. O maior contista brasileiro contemporâneo. Recebeu o Prêmio Ministério da Cultura de Literatura, pelo conjunto de sua obra. A publicação do seu livro "O Vampiro de Curitiba" (1965) lhe valeu o apelido, por causa de seu temperamento recluso.
Dalton Trevisan (1925) nasceu em Curitiba, Paraná, no dia 14 de junho. Formou-se em Direito pela Faculdade de Direito do Paraná. Exerceu a advocacia durante sete anos. Liderou em Curitiba o grupo literário que publicava a revista Joaquim, tornando-se porta voz de vários escritores. Publicou na Revista seus primeiros livros de ficção "Sonata ao Luar" (1945) e "Sete Anos de Pastor" (1946).
Ao longo de muitos anos produziu textos sem publicá-los. A partir de 1954, publicava seus contos em forma de folhetos, à moda da literatura de cordel, onde registrava o cotidiano notadamente situado na metrópole curitibana. Publicou "Guia Histórico de Curitiba" e "Crônicas da Província de Curitiba".
Sua carreira teve início depois de merecer destaque no I Concurso Nacional de Contos do Paraná. Ganhou repercussão nacional a partir de 1959, com a publicação de "Novelas Nada Exemplares", que reunia quase duas décadas de produção literária. Recebeu pela obra, o Prêmio Jabuti de Câmara Brasileira do Livro.
Dedicado exclusivamente ao conto, só teve um romance publicado "A Polaquinha" (1985). Em 1996 recebeu o Prêmio Ministério da Cultura de Literatura, pelo conjunto de sua obra. Em 2003 dividiu com Bernardo de Carvalho o Iº Prêmio Portugal Telecom de Literatura Brasileira, com o livro "Pico na Veia".
Dalton Trevisan foi o vencedor da 24ª edição do Prêmio Camões de 2012. Anunciado no dia 21 de maio, foi eleito por unanimidade pelo juri, pela importância no gênero do conto. O Prêmio Camões é uma das maiores honrarias para autores da língua portuguesa. É uma parceria entre os governos do Brasil e de Portugal, e a cada ano acontece em um dos dois países.
Publicou também "Morte na Praça" (1964), "Cemitério de Elefantes" (1964), "A Guerra Conjugal" (1969), "Crimes da Paixão" (1978), "Ah, É" (1994), "O Maníaco do Olho Verde" (2008), "Violetas e Pavões" (2009), "Desgracida" (2010), "O Anão e a Nifesta" (2011), entre outras.




Fonte 

http://www.e-biografias.net/dalton_trevisan/


Glossário

Escarmento: Ato ou efeito de escarmentar. Lição aprendida à própria custa; experiência, desengano, desilusão. 3 Exemplo salutar; advertência. 4 Repreensão, castigo. 
Travo: 1 Sabor amargo e adstringente da fruta. 2 Sabor adstringente de qualquer comida ou bebida. 3 Amargor. 4 Vestígio ou impressão desagradável.  Contração dos membros, tolhimento. 6 Travor.
Artrítico1 Relativo à artrite. 2 Que sofre de artrite. Indivíduo que sofre de artritismo. Trancos1 Salto largo que o cavalo dá, parando imediatamente. Reg(Rio Grande do Sul) Andadura ou marcha natural do cavalo, não apressada; trote natural do cavalo. 3 Abalo, comoção, solavanco. 4 Empurrão, safanão, encontrão, esbarro. 5 Golpe com o pé, dado de flanco. 6 Tombo provocado. Futebol Ato de empurrar com o ombro um adversário, a fim de lhe tomar a bola ou impedir que ele a alcance. 8 Tragada (de cigarro); em princípio, referia-se só à maconha, depois estendeu-se ao cigarro comum. Trancos: aos saltos, intervaladamente; com interrupções. Aos trancos: aos saltos, aos trambolhões. Aos trancos e barrancos: com muitos trabalhos e dificuldades, a custo; aos trancos.

Dicionário: Michaelis.



Escola juvenal da Costa e Silva - 9°C- 17/04/2013
Amanda Vieira
Ana Carolina
Jennifer Eduarda 
Bruno Lima
Julia Fernanda
Alvaro 


O Revolver do Senador---Fernando Sabino



O Senador ainda estava na cama, lendo calmamente os jornais, e eram dez horas da manhã. Súbito ouve a voz do netinho de quatro anos de idade por detrás da folha aberta, bem junto de sua cabeça:
– Vovô, eu vou te matar.
Abaixou o jornal e viu, aterrorizado, que o menino empunhava com as duas mãos o revólver apanhado na gaveta da cabeceira.  Sempre tivera a arma ali ao seu alcance, para qualquer eventualidade, carregada e com uma bala na agulha. Nunca essa eventualidade se dera na longa seqüência de riscos e tropeços que a política lhe proporcionara. No entanto, ali estava, agora, apanhado de surpresa, sob a mira de um revólver. O menino começou a rir de sua cara de espanto.
– Eu vou te matar – repetiu, dedinho já no gatilho.
O menor gesto precipitado e a arma dispararia.
Pensou em estender o braço e ao menos afastar o cano de sua testa, que já começava a porejar suor. Mas temeu o susto da criança, o dedo se contraindo no gatilho... Tentou falar e de seus lábios saíram apenas sons roufenhos e mal articulados.
– Não me mata não – gaguejou, afinal: – você é tão bonzinho...
– Pum! Pum! – e o demônio do menino sempre a rir, só fez dar um passo para trás; que o colocou fora de seu alcance. Agora estava perdido.
– Cuidado, tem bala... – deixou escapar, e a voz de novo lhe faltou. Toda uma vida que terminava ali, estupidamente nas mãos de uma criança – de que adiantara?  Tudo aflição de espírito e esforço vão. Se alguém entrasse no quarto de repente, a mãe, a avó do menino... Que é isso, menino! Você mata seu avô! Com o susto... Senti o pijama já empapado de suor. Era preciso fazer alguma coisa, terminar logo com aquela agonia. Estendeu mansamente o braço trêmulo:
– Me dá isso aqui...
– Mãos ao alto! – berrou o menino, ameaçador, dando passo para trás, e as mãos pequeninas se firmaram ainda mais no cabo da arma. O Senador não teve outra coisa a fazer senão obedecer.
E assim se compôs o quadro grotesco: o velho com os braços erguidos, o guri a dominá-lo com o revólver. De repente, porém, o telefone tocou.
– Atende aí ­– pediu o Senador, num sopro.
Estava salvo: o menino tomou do fone, descobrindo brinquedo novo, e abaixou o revólver. O Senador aproveitou a trégua para apoderar-se da arma. Então pôs-se a tremer, descontrolado, enquanto retirava as balas com os dedos aflitos. O menino começou a chorar:
– Me dá! Me dá!
A mulher do senador vinha entrando:
–O que foi que você fez com ele? Está com uma cara esquisita... Que aconteceu?
– Acabo de nascer de novo – explicou simplesmente.
(Fonte: A vitória da infância)

Síntese do grupo:

O texto conta sobre a história de um senador que viveu um momento de pavor quando seu pequeno neto encontrou sua arma carregada dentro da gaveta da cabeceira da cama e aponta para sua cabeça dizendo: “Vou te matar!”. O senador começa a suar desesperadamente, já sem voz o homem tenta falar, mas dos seus lábios só saem ruídos “Não me mata não! “diz o senador” Você é tão bonzinho!”. Por sorte o telefone toca  e o senador aliviado gagueja: “Atende ai!” e aproveita a distração do garoto para tomar o revolver  e descarrega-lo o garoto ao perceber que perdeu o “brinquedo” começa a chorar dizendo: “Me dá, me dá!!”.
A mulher do senador ao entrar no quarto ao ver a cena pergunta o que houve o senador com poucas palavras responde: “Acabo de nascer de novo.”
Em discussão com o grupo as opiniões foram que o senador foi irresponsável de deixar a arma naquele lugar tão acessível e foi dito também que o autor do texto deveria ter estendido mais a história pois ela terminou muito de repente.

Glossário:
Súbito-Que ocorre ou surge sem ser previsto,repentino, inesperado,subitânio.Acontecimento repentino
roufenhos-Qualidade do que é fanho, rouco.
empunhava-V.t. Pegar e apertar na mão; segurar, pegar pelo punho (a espada, uma arma).
eventualidade-Usar
estupidamente-violentamente tolamente 
compôs-É uma complementação.
A família botânica das Compostas é atualmente denomina-
da de Asteráceas
grotesco-Ridiculo; algo feio.
guri-Menino, garoto, moleque
trégua -Dar um tempo;
esquecer o que se passou;
pedido de desculpas.
aflitos-Que se encontra em estado de desespero, Agonia. Impaciência.

Grupo: Jessica Morgado,Maria Eliza,Leticia Martins,Israel Salatiel,Ana Carolina Rocha
Escola Juvenal da Costa e Silva


REGINA, MARTA, POSSI E A AMERICANA BISHOP_ IGNÁCIO DE LOYOLA BRANDÃO.


Regina, Marta, Possi e a americana Bishop.
Ignácio de Loyola Brandão

Tenho um defeito, não choro. Essa impossibilidade, ao longo da vida, me tem causado dores, quebras, perdas. Sábado, quase chorei, ao ouvir, no fim da peça ‘Um Porto para Elizabeth Bishop’, o poema Uma Arte, em que ela fala do ato de perder querendo diminuir o dilaceramento interno. Há quantos anos eu não saía do teatro com alguma coisa acrescentada à minha vida? Saí gratificado e feliz, querendo conversar mais, partilhar com amigos a hora e meia que relata o trajeto feliz/dolorido, que foi a passagem de Bishop pelo Brasil e sua paixão por Lota Macedo Soares. Sou anacrônico, gosto da alta qualidade de um texto  e me deixo envolver quando a direção é perfeita. E poderia ter assistido de joelhos a interpretação comovente de uma atriz que só tem crescido.
Deixei o Sesc Vila Nova como se tivesse acabado de redescobrir uma arte perdida em equívocos. Por hora e meia, uma criação foi capaz de tocar, machucar, provocar, incomodar, alegrar, perturbar, questionar. Um Porto para Elizabeth Bishop tem amor, sexo, lesbianismo, política, humor, tragédia, neuroses, alcoolismo, poesia. Sensacionalismo barato? Frase vulgar para outdoor ou trailer? Não é Nélson Rodrigues, mas tem sua altura. Poderia ser Albee, Pinter, O’Neill, Tennessee Williams, Osborne. No entanto, é Marta Góes com um texto preciso, moderno e sintético, exato nas mudanças de cena e tempo.
Em pleno 2001, quando todas as liberdades são concedidas, quando já vimos todos os sexos possíveis, quando homossexualismo, lesbianismo, taras, neuras, tudo já foi jogado com crueza em cena, subitamente estamos diante de uma peça que “fala de tudo” com ternura e grandeza. Um Porto para Elizabeth Bishop foi escrita com amor pelos personagens e pelas pessoas. Gente que se ama e se completa, se separa, se quer, sofre e se estraçalha nas angústias, desejos, impossibilidades, dores e alegrias que o amor produz. Meus lugares-comuns se esvaem numa poesia singular como há anos não se via em um texto nacional. A americana Elizabeth Bishop, mais do que qualquer brasileiro “politizado”, contempla o Brasil, desesperada por vê-lo se despedaçar. Atual, crítico!
Sexo, lesbianismo, política, humor, tragédia, neuroses, alcoolismo. Seriam “qualidades” chamarizes de público, grande atração. Qualquer outro colocaria palavrões e sexo no palco, as bilheterias estourariam. Não Marta Góes! Não José Possi! Não Regina Braga! Raras vezes vimos tanta delicadeza, compaixão.
Mergulho radical nos sentimentos. Outra palavra velha: dignidade. O que está no palco do Sesc Vila Nova é a dignidade da arte teatral. Dignidade hoje provoca risos. Só que todas as revoluções no palco já foram feitas. Tudo foi implodido, demolido, desconstruído, ditos todos os palavrões, tiradas todas as roupas, exibidos todos os corpos, massacrados todos os governos, ideologias e crenças. Foram momentos fundamentais, criados por pioneiros inquietos que renovaram. Estava na hora de se retornar às emoções, conflitos, sentimentos, dúvidas, felicidades, paixões. Motores do mundo e da história do ser humano. Estamos saturados de comediazinhas medíocres, escritas em uma semana, para aproveitamento do ator do momento na Globo, do sucesso de plantão ou de modelos fashion alçados a canastrões, para alegria da mídia voraz por pop stars.
Regina Braga, Marta Góes e José Possi nos convulsionam interiormente, nos chocam. Restauram a crença na arte pura (outro termo relegado aos museus) feita de palavras, luzes, interpretações interiorizadas e diálogos cheios de sutileza e sugestão, ditos por uma atriz que se alinha na galeria de grandes intérpretes brasileiros que vai de Dulcina a Cacilda Becker, de Tônia Carrero a Maria Della Costa, de Cleyde Yáconis a Dina Sfat, de Natália Timberg a Fernanda Montenegro. Magnífico momento de Regina Braga, nessa prova que pode ser fatal, o monólogo. Gênero que ou segura pelo texto, direção e interpretação ou faz bocejar e desejar ir embora rápido, alegando que, sem o ar condicionado, ditado pelo racionamento, a sala está um forno e o corpo protesta. O teatro revive, as grandes atrizes continuam a crescer, a excelência de textos se refaz, o Brasil se salva.

 Fonte: 




- Preconceito + Amor




(Ilustração baseada no texto )



Glossário:

-Anacrônico: (a.na.crô.ni.co)
a.
1. Que apresenta ou encerra anacronismo.
2. Que não se enquadra nos usos ou costumes atuais (ideias anacrônicas)
3. Antiquado, retrógrado.

-Lesbianismo: (les.bi:a.nis.mo)
sm.
1.Homossexualismo feminino; SAFISMO.

-Neurose: (neu.ro.se)
sf.
1. Psi. Perturbação psíquica, caracterizada por conflitos que inibem as condutas sociais, sem entretanto comprometer a estrutura da personalidade, e dos quais o paciente tem uma consciência pesarosa.; NEVROSE; NEURA
2. Psic. Afecção psicogênica cujos sintomas expressam simbolicamente um conflito psíquico enraizado na história infantil do sujeito.
-Sensacionalismo: (sen.sa.ci:o.na.lis.mo)
sm.
1. Caráter ou qualidade de sensacional.
2. Interesse em buscar ou explorar assuntos sobre fatos ou pessoas, que possam provocar escândalo, impacto e chocar a opinião pública.
3. A divulgação dessa matéria em jornais, revistas, rádio, televisão etc.

-Sutileza: (su.ti.le.za) [ê]
sf.
1. Qualidade do que ou de quem é sutil; SUTILIDADE; SUBTILEZA
2. Penetração, agudeza de espírito; ACUIDADE; SAGACIDADE
3. Delicadeza, finura extrema
4. Ato ou procedimento sutil (qualquer das acps.)

-Monólogo: (mo. .lo.go)
sm.
1. Teat. Cena ou peça em que um só ator representa, falando para o público ou consigo mesmo.
2. Longo discurso de quem não deixa outros falarem.
3. Solilóquio.


- Racionamento:
(ra.ci:o.na.men.to)
sm.
1. Ação ou resultado de racionar.
2. Restrição ao consumo de certos bens e/ou serviços, imposta pelo governo em situações excepcionais, para assegurar a continuidade de seu fornecimento.

-Sintético: (sin.té.ti.co) 
Adj. 

 1 Relativo à síntese. 2 Feito em síntese; compendiado, resumido. Antôn: analítico. Método s.: O que opera das partes para o todo.Produto s.: o produto químico obtido em laboratório, ou em instalações industriais.

-Ideologia:(i.deo.lo.gi.a )
sf .

 1 Filos Ciência que trata da formação das ideias. 2Tratado das ideias em abstrato. 3 Filos Sistema que considera a sensação como fonte única dos nossos conhecimentos e único princípio das nossas faculdades. 4Maneira de pensar que caracteriza um indivíduo ou um grupo de pessoas:Ideologia socialista. Var: ideologismo.

-Impossibilidade:(im.pos.si.bi.li.da.de) 
sf .

 1 Falta de possibilidade. 2 Qualidade de impossível ou inexecutável. - I. absoluta: caráter do que nenhuma mudança de circunstâncias pode tornar possível. I. física: caráter do que é impossível segundo a ordem da natureza. I. metafísica: a que implica contradição. I. moral: máxima probabilidade de que uma coisa não será possível. I. relativa: a resultante de certas condições e que cessa quando elas cessam.



 Fontes:



Regina, Marta, Possi e a americana Bishop.
(Síntese do grupo)




Ignácio de Loyola Brandão foca-se de maneira objetiva e construtiva em seus assuntos polêmicos para grande maioria da sociedade, buscando a realidade de nosso dia-a-dia, refletindo sobre sua grande infância. Ele é um autor corajoso que expressa assuntos q geram um tabu.
Seus textos não são simples, dentro deles há sentimento, visão da realidade e um senso criticam. As pessoas deveriam interpretar o texto como um reflexo da sociedade atual. O autor expressa que a homossexualidade e o lesbianismo não é um problema e nem um tipo de anormalidade, mas sim algo de nós mesmos. O autor foi ousado ao abortar tal assunto que gera polêmica na sociedade ignorante que hoje temos.
Ignácio reflete sobre o assunto critico da sociedade de hoje em dia, contemplando o reflexo de si mesmo nesse mundo, além que ele já vivenciou muitas testemunhas: A palestra além de ajudar faz com que nós procuremos a liberdade, fala também para que não olharmos para essas pessoas com olhar malicioso. Eles são como nós seres humanos, não devem ser descriminados.
            Ele por meio de suas crônicas singelas passa uma mensagem de tranquilidade e liberdade de expressão, pois fala abertamente sobre coisas pouco faladas atualmente.



                            Ignácio de Loyola Brandão (1936)


Ignácio de Loyola Lopes Brandão nasceu em Araraquara - SP, no dia de Santo Ignácio de Loyola, 31 de julho de 1936. Seu primeiro conto publicado foi "O menino que vendia palavras", que nasceu de seu fascínio por dicionários. Seu primeiro romance, "Dias de Glória", um policial passado em Veneza, foi escrito em um caderno quando cursava o ginásio. Começou cedo a escrever para jornais, primeiro em Araraquara, depois em São Paulo. Em 1963 muda-se para a Itália com o objetivo de trabalhar como roteirista em Cinecittà. De volta ao Brasil lança em 1965 seu primeiro livro, "Depois do sol", de contos. Seu primeiro romance, "Bebel que a cidade comeu", é lançado 3 anos depois. Sua adaptação para o cinema recebe o Prêmio Governador do Estado de São Paulo de "Melhor Roteiro Cinematográfico". Ainda em 1968  Ignácio recebe o Prêmio Especial do I Concurso Nacional de Contos do Paraná por “Pega ele, Silêncio”, publicado em “Os melhores contos do Brasil”. Desde sua temporada na Itália já trabalhava na cabeça a ideia para a história de seu romance “Zero”, onde quis retratar o homem comum vivendo em uma cidade violenta durante uma ditadura. Esse romance foi primeiramente publicado em Milão e em seguida no Brasil (1975). Embora tenha recebido o prêmio de “Melhor Ficção”, pela Fundação Cultural do Distrito Federal, em 1976, “Zero” é censurado pelo Ministério da Justiça no mesmo ano. Sua venda é proibida e só é liberada em 1979. A partir daí viaja pelos EUA e Europa, participando de eventos literários e dando palestras. Em 1984 recebe o Prêmio IILA, do Instituto Ítalo-Latino-Americano, pelo romance “Não verás país nenhum” e assume a vice-presidência da União Brasileira de Escritores. Em 2000 recebe o Prêmio Jabuti de “Melhor Livro de Contos” por “O homem que odiava a segunda-feira”, publicado em 1999.



Fonte:




-Escola juvenal da Costa e Silva - 9°D- 17/04/2013
Ingrid  
Natalia 
Clara 
Amanda Siqueira 
Vitoria Lopez  
Elisa.