O Senador ainda estava na cama, lendo calmamente os jornais, e eram dez horas da manhã. Súbito ouve a voz do netinho de quatro anos de idade por detrás da folha aberta, bem junto de sua cabeça:
– Vovô, eu
vou te matar.
Abaixou o
jornal e viu, aterrorizado, que o menino empunhava com as duas mãos o revólver
apanhado na gaveta da cabeceira. Sempre
tivera a arma ali ao seu alcance, para qualquer eventualidade, carregada e com
uma bala na agulha. Nunca essa eventualidade se dera na longa seqüência de
riscos e tropeços que a política lhe proporcionara. No entanto, ali estava,
agora, apanhado de surpresa, sob a mira de um revólver. O menino começou a rir
de sua cara de espanto.
– Eu vou te
matar – repetiu, dedinho já no gatilho.
O menor
gesto precipitado e a arma dispararia.
Pensou em
estender o braço e ao menos afastar o cano de sua testa, que já começava a
porejar suor. Mas temeu o susto da criança, o dedo se contraindo no gatilho...
Tentou falar e de seus lábios saíram apenas sons roufenhos e mal articulados.
– Não me
mata não – gaguejou, afinal: – você é tão bonzinho...
– Pum! Pum!
– e o demônio do menino sempre a rir, só fez dar um passo para trás; que o
colocou fora de seu alcance. Agora estava perdido.
– Cuidado,
tem bala... – deixou escapar, e a voz de novo lhe faltou. Toda uma vida que
terminava ali, estupidamente nas mãos de uma criança – de que adiantara? Tudo aflição de espírito e esforço vão. Se
alguém entrasse no quarto de repente, a mãe, a avó do menino... Que é isso,
menino! Você mata seu avô! Com o susto... Senti o pijama já empapado de suor.
Era preciso fazer alguma coisa, terminar logo com aquela agonia. Estendeu
mansamente o braço trêmulo:
– Me dá isso
aqui...
– Mãos ao
alto! – berrou o menino, ameaçador, dando passo para trás, e as mãos pequeninas
se firmaram ainda mais no cabo da arma. O Senador não teve outra coisa a fazer
senão obedecer.
E assim se
compôs o quadro grotesco: o velho com os braços erguidos, o guri a dominá-lo
com o revólver. De repente, porém, o telefone tocou.
– Atende aí
– pediu o Senador, num sopro.
Estava
salvo: o menino tomou do fone, descobrindo brinquedo novo, e abaixou o
revólver. O Senador aproveitou a trégua para apoderar-se da arma. Então pôs-se
a tremer, descontrolado, enquanto retirava as balas com os dedos aflitos. O
menino começou a chorar:
– Me dá! Me
dá!
A mulher do
senador vinha entrando:
–O que foi
que você fez com ele? Está com uma cara esquisita... Que aconteceu?
– Acabo de
nascer de novo – explicou simplesmente.
(Fonte: A
vitória da infância)
Síntese do grupo:
O texto
conta sobre a história de um senador que viveu um momento de pavor quando seu
pequeno neto encontrou sua arma carregada dentro da gaveta da cabeceira da cama
e aponta para sua cabeça dizendo: “Vou te matar!”. O senador começa a suar
desesperadamente, já sem voz o homem tenta falar, mas dos seus lábios só saem ruídos
“Não me mata não! “diz o senador” Você é tão bonzinho!”. Por sorte o telefone
toca e o senador aliviado gagueja: “Atende
ai!” e aproveita a distração do garoto para tomar o revolver e descarrega-lo o garoto ao perceber que
perdeu o “brinquedo” começa a chorar dizendo: “Me dá, me dá!!”.
A mulher do
senador ao entrar no quarto ao ver a cena pergunta o que houve o senador com
poucas palavras responde: “Acabo de nascer de novo.”
Em discussão
com o grupo as opiniões foram que o senador foi irresponsável de deixar a arma
naquele lugar tão acessível e foi dito também que o autor do texto deveria ter
estendido mais a história pois ela terminou muito de repente.
Glossário:
Súbito-Que ocorre ou surge sem ser previsto,repentino, inesperado,subitânio.Acontecimento repentino
roufenhos-Qualidade do que é fanho, rouco.
empunhava-V.t. Pegar e apertar na mão; segurar, pegar pelo punho (a espada, uma arma).
eventualidade-Usar
estupidamente-violentamente tolamente
compôs-É uma complementação.
A família botânica das Compostas é atualmente denomina-
da de Asteráceas
grotesco-Ridiculo; algo feio.
guri-Menino, garoto, moleque
trégua -Dar um tempo;
esquecer o que se passou;
pedido de desculpas.
aflitos-Que se encontra em estado de desespero, Agonia. Impaciência.
Grupo: Jessica Morgado,Maria Eliza,Leticia Martins,Israel Salatiel,Ana Carolina Rocha
Escola Juvenal da Costa e Silva
O texto é muito interessante,pois deve servir de exemplo para as pessoas tomarem cuidado com as crianças!
ResponderExcluirVerdade pois as crianças são imprevisíveis como minhas duas irmãs!elas não tem noção do perigo!
ResponderExcluiré mesmo as crianças nem imaginam o perigo de uma arma ou seja o que for.
ResponderExcluiras crianças não podem se responsabilizar pelos seus ato por isso tem os pais e se eles forem irresponsaveis não tem nexo.
ResponderExcluiras crianças tem esse tipo de brincadeira por causa da televisão só passa violência o dia todo e as crianças tentam imitar.
ResponderExcluirGostei dos comentários e da síntese.
ResponderExcluirLer é bom demais, não é mesmo?
E Fernando Sabino é muito sutil e engraçado em suas mensagens.
Continuem lendo, se esforçando para aprender e compartilhar com os colegas o que aprendem.
Parabéns!