Regina,
Marta, Possi e a americana Bishop.
Ignácio
de Loyola Brandão
Tenho
um defeito, não choro. Essa impossibilidade, ao longo da vida, me tem causado dores, quebras, perdas.
Sábado, quase chorei, ao ouvir, no fim da peça ‘Um Porto para Elizabeth Bishop’, o poema Uma Arte, em que ela fala do
ato de perder querendo diminuir o dilaceramento interno. Há quantos anos eu não
saía do teatro com alguma coisa acrescentada à minha vida? Saí gratificado e
feliz, querendo conversar mais, partilhar com amigos a hora e meia que relata o
trajeto feliz/dolorido, que foi a passagem de Bishop pelo Brasil e sua paixão
por Lota Macedo Soares. Sou anacrônico, gosto da alta qualidade de um texto e me deixo envolver quando a direção é
perfeita. E poderia ter assistido de joelhos a interpretação comovente de uma
atriz que só tem crescido.
Deixei o Sesc Vila Nova como se
tivesse acabado de redescobrir uma arte perdida em equívocos. Por hora e meia,
uma criação foi capaz de tocar, machucar, provocar, incomodar, alegrar, perturbar,
questionar. Um Porto para Elizabeth Bishop tem amor, sexo, lesbianismo,
política, humor, tragédia, neuroses, alcoolismo, poesia. Sensacionalismo
barato? Frase vulgar para outdoor ou trailer? Não é Nélson Rodrigues, mas tem
sua altura. Poderia ser Albee, Pinter, O’Neill, Tennessee Williams, Osborne. No
entanto, é Marta Góes com um texto preciso, moderno e sintético, exato nas
mudanças de cena e tempo.
Em
pleno 2001, quando todas as liberdades são concedidas, quando já vimos todos os
sexos possíveis, quando homossexualismo, lesbianismo, taras, neuras, tudo já
foi jogado com crueza em cena, subitamente estamos diante de uma peça que “fala
de tudo” com ternura e grandeza. Um Porto para Elizabeth Bishop foi escrita com
amor pelos personagens e pelas pessoas. Gente que se ama e se completa, se separa, se quer, sofre e se
estraçalha nas angústias, desejos, impossibilidades, dores e alegrias que o
amor produz. Meus lugares-comuns se esvaem numa poesia singular como há
anos não se via em um texto nacional. A americana Elizabeth Bishop, mais do que
qualquer brasileiro “politizado”, contempla o Brasil, desesperada por vê-lo se
despedaçar. Atual, crítico!
Sexo, lesbianismo, política, humor,
tragédia, neuroses, alcoolismo. Seriam “qualidades” chamarizes de público,
grande atração. Qualquer outro colocaria palavrões e sexo no palco, as
bilheterias estourariam. Não Marta Góes! Não José Possi! Não Regina Braga!
Raras vezes vimos tanta delicadeza, compaixão.
Mergulho
radical nos sentimentos. Outra palavra velha: dignidade. O que está no palco do
Sesc Vila Nova é a dignidade da arte teatral. Dignidade hoje provoca risos. Só que todas as revoluções no
palco já foram feitas. Tudo foi implodido, demolido, desconstruído, ditos todos
os palavrões, tiradas todas as roupas, exibidos todos os corpos, massacrados
todos os governos, ideologias e crenças. Foram momentos fundamentais, criados
por pioneiros inquietos que renovaram. Estava na hora de se retornar às
emoções, conflitos, sentimentos, dúvidas, felicidades, paixões. Motores do
mundo e da história do ser humano. Estamos saturados de comediazinhas medíocres, escritas em uma
semana, para aproveitamento do ator do momento na Globo, do sucesso de
plantão ou de modelos fashion alçados a canastrões, para alegria da mídia voraz
por pop stars.
Regina Braga, Marta Góes e José Possi
nos convulsionam interiormente, nos chocam. Restauram a crença na arte pura
(outro termo relegado aos museus) feita de palavras, luzes, interpretações
interiorizadas e diálogos cheios de sutileza e sugestão, ditos por uma atriz
que se alinha na galeria de grandes intérpretes brasileiros que vai de Dulcina
a Cacilda Becker, de Tônia Carrero a Maria Della Costa, de Cleyde Yáconis a
Dina Sfat, de Natália Timberg a Fernanda Montenegro. Magnífico momento de Regina
Braga, nessa prova que pode ser fatal, o monólogo. Gênero que ou segura pelo
texto, direção e interpretação ou faz bocejar e desejar ir embora rápido,
alegando que, sem o ar condicionado, ditado pelo racionamento, a sala está um
forno e o corpo protesta. O teatro revive, as grandes atrizes continuam a
crescer, a excelência de textos se refaz, o Brasil se salva.
Fonte:
- Preconceito + Amor
(Ilustração baseada no texto )
Glossário:
-Anacrônico: (a.na.crô.ni.co)
a.
1. Que
apresenta ou encerra anacronismo.
2. Que
não se enquadra nos usos ou costumes atuais (ideias anacrônicas)
3. Antiquado,
retrógrado.
-Lesbianismo: (les.bi:a.nis.mo)
sm.
1.Homossexualismo feminino; SAFISMO.
-Neurose: (neu.ro.se)
sf.
1. Psi. Perturbação psíquica, caracterizada por conflitos que inibem as
condutas sociais, sem entretanto comprometer a estrutura da personalidade, e
dos quais o paciente tem uma consciência pesarosa.; NEVROSE; NEURA
2. Psic. Afecção psicogênica cujos sintomas expressam simbolicamente um
conflito psíquico enraizado na história infantil do sujeito.
-Sensacionalismo: (sen.sa.ci:o.na.lis.mo)
sm.
1. Caráter
ou qualidade de sensacional.
2. Interesse
em buscar ou explorar assuntos sobre fatos ou pessoas, que possam provocar
escândalo, impacto e chocar a opinião pública.
3. A
divulgação dessa matéria em jornais, revistas, rádio, televisão etc.
-Sutileza: (su.ti.le.za) [ê]
sf.
1. Qualidade
do que ou de quem é sutil; SUTILIDADE; SUBTILEZA
2. Penetração,
agudeza de espírito; ACUIDADE; SAGACIDADE
3. Delicadeza,
finura extrema
4. Ato
ou procedimento sutil (qualquer das acps.)
-Monólogo: (mo. nó.lo.go)
sm.
1. Teat. Cena ou peça em que um só ator representa,
falando para o público ou consigo mesmo.
2. Longo
discurso de quem não deixa outros falarem.
3. Solilóquio.
- Racionamento: (ra.ci:o.na.men.to)
sm.
1. Ação
ou resultado de racionar.
2. Restrição
ao consumo de certos bens e/ou serviços, imposta pelo governo em situações
excepcionais, para assegurar a continuidade de seu fornecimento.
-Sintético: (sin.té.ti.co)
Adj.
1 Relativo à síntese. 2 Feito em síntese; compendiado, resumido. Antôn: analítico. Método s.: O que
opera das partes para o todo.Produto
s.: o produto químico obtido em laboratório, ou em instalações
industriais.
-Ideologia:(i.deo.lo.gi.a )
sf .
sf .
1 Filos Ciência que trata da formação das ideias. 2Tratado das ideias em abstrato. 3 Filos Sistema que considera a sensação como fonte única dos nossos
conhecimentos e único princípio das nossas faculdades. 4Maneira de pensar que caracteriza um indivíduo ou
um grupo de pessoas:Ideologia
socialista. Var: ideologismo.
-Impossibilidade:(im.pos.si.bi.li.da.de)
sf .
sf .
1 Falta de possibilidade. 2 Qualidade de impossível ou inexecutável. - I. absoluta: caráter
do que nenhuma mudança de circunstâncias pode tornar possível. I. física: caráter
do que é impossível segundo a ordem da natureza. I. metafísica: a que
implica contradição. I. moral: máxima
probabilidade de que uma coisa não será possível. I. relativa: a
resultante de certas condições e que cessa quando elas cessam.
Fontes:
Regina, Marta, Possi e a americana Bishop.
(Síntese do grupo)
Ignácio
de Loyola Brandão foca-se de maneira objetiva e construtiva em seus assuntos
polêmicos para grande maioria da sociedade, buscando a realidade de nosso
dia-a-dia, refletindo sobre sua grande infância. Ele é um autor corajoso que
expressa assuntos q geram um tabu.
Seus
textos não são simples, dentro deles há sentimento, visão da realidade e um
senso criticam. As pessoas deveriam interpretar o texto como um reflexo da
sociedade atual. O autor expressa que a homossexualidade e o lesbianismo não é
um problema e nem um tipo de anormalidade, mas sim algo de nós mesmos. O autor
foi ousado ao abortar tal assunto que gera polêmica na sociedade ignorante que
hoje temos.
Ignácio
reflete sobre o assunto critico da sociedade de hoje em dia, contemplando o
reflexo de si mesmo nesse mundo, além que ele já vivenciou muitas testemunhas:
A palestra além de ajudar faz com que nós procuremos a liberdade, fala também
para que não olharmos para essas pessoas com olhar malicioso. Eles são como nós
seres humanos, não devem ser descriminados.
Ele por meio de suas crônicas
singelas passa uma mensagem de tranquilidade e liberdade de expressão, pois
fala abertamente sobre coisas pouco faladas atualmente.
Ignácio de Loyola Brandão (1936)
Ignácio
de Loyola Lopes Brandão nasceu em Araraquara - SP, no dia de Santo Ignácio de
Loyola, 31 de julho de 1936. Seu primeiro conto publicado foi "O menino
que vendia palavras", que nasceu de seu fascínio por dicionários. Seu primeiro
romance, "Dias de Glória", um policial passado em Veneza, foi escrito
em um caderno quando cursava o ginásio. Começou cedo a escrever para jornais,
primeiro em Araraquara, depois em São Paulo. Em 1963 muda-se para a Itália com
o objetivo de trabalhar como roteirista em Cinecittà. De volta ao Brasil lança
em 1965 seu primeiro livro, "Depois do sol", de contos. Seu primeiro
romance, "Bebel que a cidade comeu", é lançado 3 anos depois. Sua
adaptação para o cinema recebe o Prêmio Governador do Estado de São Paulo de
"Melhor Roteiro Cinematográfico". Ainda em 1968 Ignácio recebe o Prêmio Especial do I
Concurso Nacional de Contos do Paraná por “Pega ele, Silêncio”, publicado em
“Os melhores contos do Brasil”. Desde sua temporada na Itália já trabalhava na
cabeça a ideia para a história de seu romance “Zero”, onde quis retratar o
homem comum vivendo em uma cidade violenta durante uma ditadura. Esse romance
foi primeiramente publicado em Milão e em seguida no Brasil (1975). Embora
tenha recebido o prêmio de “Melhor Ficção”, pela Fundação Cultural do Distrito
Federal, em 1976, “Zero” é censurado pelo Ministério da Justiça no mesmo ano.
Sua venda é proibida e só é liberada em 1979. A partir daí viaja pelos EUA e
Europa, participando de eventos literários e dando palestras. Em 1984 recebe o
Prêmio IILA, do Instituto Ítalo-Latino-Americano, pelo romance “Não verás país
nenhum” e assume a vice-presidência da União Brasileira de Escritores. Em 2000
recebe o Prêmio Jabuti de “Melhor Livro de Contos” por “O homem que odiava a
segunda-feira”, publicado em 1999.
Fonte:
-Escola juvenal da Costa e Silva - 9°D- 17/04/2013
Ingrid
Natalia
Clara
Amanda Siqueira
Vitoria Lopez
Elisa.
Foi muito bom e interessante fazer este trabalho e ver que existem homens como Ignácio que não temem escrever a realidade em suas crônicas, de falar sobre a sociedade de hoje em dia.
ResponderExcluirMtoo bom se aprofundar na historia de Ignacio,pois ele é bem ousado em flr sobre assuntos poucos comentados hj em dia ...Assuntos q para a sociedade ainda é um grande tabu .... Então galera,bora ler mais sobre esse autor consagrado??
ResponderExcluirMuito bom fazer um o trabalho de Ignácio, pois ele fala tudo o que sente sem ter medo do que o povo irá fala. Ele é um ótimo autor que sabe se expressar sem medo.
ResponderExcluirme interessei bastante com o assunto, poucas pessoas são ousadas o suficiente para se aprofundar mais no assunto de homossexualidade e lesbianismo. Não tenho preconceito com esses tipos de coisas que hoje em dia já e mais normal, acho que se duas pessoas se amam devem ficar juntos independente do sexo, enquanto tantas por ai estão se odiando porque duas pessoas do mesmo sexo não podem se amar?
ResponderExcluirParabéns, pelo trabalho. E por procurarem entender essa 'resenha' importante de Ignácio Loyola.
ResponderExcluirÉ bom ver que mentes brilhantes como a desse autor e a de vcs prometem mudanças sociais - para melhor - com o combate à hipocrisia, ao preconceito e à ignorância.
Continuem lendo,
estudando e se empenhando.
Parabéns!!!